Homenagem á Vida e Obra de Clarice Lispector

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terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

Ao correr da máquina


"Meu Deus, como o mundo sempre foi vasto e como eu vou morrer um dia. E até morrer vou viver apenas momentos? Não, dai-me mais do que momentos. Não porque momentos sejam poucos, mas porque momentos raros matam de amor pela raridade. Será que eu vos amo, momentos? Responde, a vida que me mata aos poucos: eu vos amo, momentos? Sim? Ou não? Quero que os outros compreendam o que jamais entenderei. Quero que me deem isto: não a explicação, mas a compreensão. Será que vou ter que viver a vida inteira à espera de que o domingo passe? E ela, a faxineira, que mora na Raiz da Serra e acorda às quatro da madrugada para começar o trabalho da manhã na Zona Sul, de onde volta tarde para a Raiz da Serra, a tempo de dormir para acordar às quatro da manhã e começar o trabalho na Zona Sul, de onde. - Eu vou te dar o meu segredo mortal: viver não é uma arte. Mentiram os que disseram isso. Ah! existem feriados em que tudo se torna tão perigoso. Mas a máquina corre antes que meus dedos corram. A máquina escreve em mim. E eu não tenho segredos, senão exatamente os mortais. Apenas aqueles que me bastam para me fazer ser uma criatura com os meus olhos e um dia morrer. Que direi disso que agora me ocorreu? Pois ocorreu-me que tudo se paga - e que se paga tão caro a vida que até se morre. Passear pelos campos com uma criancinha-fantasma é estar de mãos dadas com o que se perdeu, e os campos ilimitados com sua beleza não ajudam: as mãos se prendem como garras que não querem se perder. Adiantaria matar a criancinha-fantasma e ficar livre? Mas o que fariam os grandes campos onde não se teve a previdência de plantar nenhuma flor senão a de um fantasminha cruel? Cruel por ser criancinha e exigente. Ah! sou realista demais: só ando com os meus fantasmas."

By: Blog Clarice Lispector - Um Jeito Diferente de Ser

Espera impaciente


"O que chamo de morte me atrai tanto que só posso chamar de valoroso o modo como, por solidariedade com os outros, eu ainda me agarro ao que chamo de vida. Seria profundamente amoral não esperar, como os outros esperam, pela hora, seria esperteza demais a minha de avançar no tempo, e imperdoável ser mais sabida do que os outros. Por isso, apesar da intensa curiosidade, espero."

By: Blog Clarice Lispector - Um Jeito Diferente de Ser

Clarice Lispector - De Lá Pra Cá

Clarice Lispector nasceu na Ucrânia, tinha "sotaque" de estrangeira, mas foi a maior escritora brasileira. É uma das inventoras de nosso romance psicológico. Misteriosa como suas personagens, todas mulheres, sua literatura toca fundo o coração do leitor, como só os grandes artistas sabem fazer. Ela fala das coisas complexas da vida com uma linguagem simples e cheia de poesia. Participam do programa Nélida Piñon (escritora e amiga), Teresa Monteiro (autora do projeto O Rio de Clarice), Beth Goulart (atriz) e Benjamin Moser (biógrafo norte-americano).


Parte 1



Parte 2


By: Blog Clarice Lispector - Um Jeito Diferente de Ser

Do modo como não se quer a bondade


"E com sua enorme inteligência compreensiva, dedicando-se a não ser humana, no sentido em que ser humana é também ter violências e defeitos. Dedica-se a compreender perdoando os outros. Aquele coração está vazio de mim porque precisa que eu seja admirável. Todos recorrem a ela quando estão com algum conflito e ela, “a consoladora oficial”, entende, entende, entende. Minha grande altivez: preciso ser achada na rua."

By: Blog Clarice Lispector - Um Jeito diferente de Ser