Homenagem á Vida e Obra de Clarice Lispector

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terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

Um homem feliz


"Um dia desses tomei um táxi e acendi um cigarro. Ao primeiro sinal de parada de luz vermelha, o chofer me disse: - A senhora quer ter a gentileza de me emprestar seus fósforos? Estendi-lhe a caixa, e quando a devolveu, antes que ele dissesse alguma coisa, falei distraidamente por hábito: - De nada. E ele: - Eu ainda não tinha agradecido. Por que é que a senhora disse “de nada”? - Ah, não tem importância. - Me desculpe, mas tem importância. A senhora devia ter esperado que eu dissesse “muito obrigado” e depois é que a senhora ia responder “de nada”. - Não importa, disse eu um pouco surpreendida. Mas importava sim. Seu tom, ao ter falado, era o de um homem que defende leis que foram violadas. Era como se ele tivesse caído em terreno perigoso. Olhei-o melhor: e vi quanto aquele homem era pouco livre e como ele precisava sentir-se preso, e aos outros também. Tentei então uma doçura que o suavizasse, e, mais pela entonação da voz que por meio das palavras, eu lhe disse:
- De verdade, moço, não tem mesmo importância... Mas ele insistiu duro: - De outra vez a senhora espere que lhe agradeçam. Nada mais havia a fazer, além do que eu também estava um pouco irritada. Até o fim da corrida não dissemos mais nada. E se há um silêncio mudo era aquele."

By: Blog Clarice Lispector - Um Jeito Diferente de Ser

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